Reequilibrando as finanças diante da crise de 2020

12/08/2020

O desequilíbrio financeiro bateu à porta de muitos brasileiros no ano de 2020. O cenário econômico, agravado pela pandemia do covid-19, trouxe a falta de renda repentina à muitas casas brasileiras e com isso, a necessidade de repensar os hábitos de consumo e poupança.
Ainda que os efeitos colaterais do lockdown (isolamento físico-social) tenham intensidades diferentes dependendo da classe social, sendo mais intensos em classes com menor nível de renda, a verdade é que os ajustes no orçamento familiar estão se fazendo necessários à grande maioria da população.

Segundo a Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (gráfico 1), para as famílias com renda até 10 salários mínimos, o endividamento alcançou o recorde de 69% do total de famílias, em julho de 2020. Já para as famílias com renda mensal acima de 10 salários, a proporção do endividamento começou a diminuir fortemente desde abril, atingindo 59,1% em julho, bem próximo ao observado em julho de 2019.

A pesquisa concluiu que em ambos os grupos da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), a pandemia afetou as decisões de consumo, porém em direções opostas. Enquanto as necessidades de crédito aumentaram para as famílias de menor renda, em função da renda mais achatada, a propensão a poupar cresceu entre as famílias consideradas mais ricas, que estão mais seguras em relação aos gastos.

Para combater os efeitos da pandemia na economia, foram adotadas medidas que ampliaram a liquidez no mercado de crédito e estão sendo transferidos recursos com os benefícios emergenciais para socorrer as famílias mais vulneráveis.

Para apoiar as famílias brasileiras na reorganização e no restabelecimento da saúde financeira familiar, escolhemos 4 estratégias essenciais para serem colocados em prática nesse momento de desequilíbrio financeiro. Os pontos que separamos trarão uma fluidez e leveza no processo de revisão dos novos hábitos, com consequências financeiras positivas e clareza nos ajustes necessários.

1. Coloque os ganhos e despesas no papel. Anote tudo!

Anotar a movimentação financeira da casa é o primeiro passo para identificar os principais gargalos dos gastos em relação à nova realidade de renda da casa.

Adote uma rotina semanal para fazer suas anotações. Que tal domingo à tardezinha, para começar a semana com suas finanças em ordem? Algumas pessoas preferem planilhas, outras aplicativos, outras o caderno. Mais importante do que a ferramenta que será utilizada, será a prática do novo hábito: anotar.

A partir desta etapa as necessidades de ajustes ficarão aparentes. Acredite!

2. Classifique as despesas da casa em grupos: essenciais, desejáveis e obrigatórios.


Despesas essenciais: alimentação básica, medicamentos, água, luz, gás, aluguel, condomínio, telefone, mensalidade escolar.

Despesas obrigatórias: parcela de empréstimos e renegociações, financiamentos de carro e da casa, impostos (IPTU, IPVA) e qualquer outra obrigação legal.

Despesas desejáveis: lazer, restaurantes, TV a cabo, aplicativos de streaming (Netflix, Spotify, YouTube).

Ao dividir as despesas em grupos, avalie o percentual da sua renda que está sendo destinado à cada um dos grupos. Nossos parâmetros de gastos são: para as despesas essenciais e obrigatórias 50% da renda, para as despesas desejáveis 30% e 20% deveria ser destinado aos seus planos de vida de curto, médio e longo prazo e investimentos.

Ao perceber que os gastos de uma categoria estão mais altos que o parâmetro, é um sinal de que uma avaliação minuciosa deve ser feita entre os itens que compõem a categoria.

3. Seja criativo e esteja disposto a trazer o melhor resultado na revisão dos hábitos de consumo e poupança. Xô preguiça!

Coloque a criatividade e a disposição para trabalhar nesse período. Algumas facilidades que incorporamos nos nossos hábitos nos últimos anos custam mais caro. Repense as frequências e os efeitos de cada escolha.

Por exemplo, já pensou em criar um clima descontraído e prazeroso para cozinhar, ao invés de pedir comida por aplicativo? Porque não deixar para pedir a comida por aplicativo em um dia com mais compromissos e não por "preguiça" em ir para cozinha? Já pensou em planejar o dia de ir à cozinha e deixar tudo preparado para um determinado período de tempo (isso é praticidade)?

Para cada linha de despesa pratique uma análise criativa. Tenho certeza que a experiência não será tão dolorosa quanto pensa. Olhe para a economia obtida e anime-se. As escolhas precisam fazer sentido em sua rotina e representar ganhos bem definidos no orçamento.

Na ponta da renda, a criatividade também é bem-vinda. Já pensou em avaliar algumas possibilidades de renda extra ou aumento de renda? Ao longo dos últimos anos você investiu em seu processo de educação continuada e multidisciplinar? Experimentou novas experiências e habilidades?

4. Não fique se justificando para as pessoas. Não se preocupe com as opiniões alheias.

Da porta para dentro é o que importa. Considere que as decisões e os hábitos da sua família só dizem respeito à vocês. Estamos vivendo um momento em que precisamos ser autênticos e romper alguns padrões sociais. Pense no que é mais importante para você: manter uma aparência e o alto nível de gastos para se sentir pertencente à um grupo social ou estar com as contas em dia, ter uma reserva de emergência, colocar a cabeça no travesseiro e dormir sem preocupação e dívidas (seja para bancos ou familiares)?

Encare com positividade o momento. Foque nos ganhos. Não alimente sentimentos de perdas nesse processo. Tenha maturidade para decidir e assumir os ganhos das suas decisões. Com certeza seus ganhos serão tão bons que logo estará influenciando as pessoas próximas a repensarem seus hábitos também, afinal ganhos todos querem.

Colocando em prática os itens propostos, com certeza você e sua família conseguirão reavaliar as finanças da casa e readequar a rota da família.

Durante esse processo, mantenha-se calmo e converse sobre os objetivos, os planos, redefinam os prazos. O tempo será o maior aliado, até que tudo se ajeite novamente. E se tiver criança em casa, deixe que ela participe e veja você e seu parceiro conversando sobre as finanças e os planos da casa. Esse processo trará benefícios à todos!


Camilla Magrini, economista, mestre em Economia pela PUC-SP, com experiência de 16 anos em finanças empresarial e sócia fundadora da CR Moving.

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